A Justiça de São Paulo começa a decidir nesta quarta-feira (10) se a bacharel em direito Elize Araújo Kitano Matsunaga, presa preventivamente ao confessar que matou e esquartejou sozinha o marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, será submetida a um julgamento popular pelo crime, cometido em 19 de maio.
Para decidir sobre o júri, o juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri, deve ouvir, a partir das 10h, no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste da capital paulista, dez das 15 testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa da ré.
O interrogatório de Elize não ocorrerá nesta quarta, segundo informou a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo. A imprensa não poderá acompanhar a audiência.
Entre as testemunhas, estão: a pivô da traição de Marcos; o detetive que gravou essa modelo com o executivo; o reverendo que alertou o empresário sobre o risco dele ser morto por Elize; as duas babás que estiveram com a bacharel antes e depois do crime; o delegado do caso; um médico legista que concluiu que o diretor ainda estava vivo quando foi decapitado; um perito que fez a reconstituição do assassinato e um irmão da vítima. (Veja abaixo a relação dos escolhidos).
Nessa fase do processo, após os depoimentos, ocorrerão os debates entre o Ministério Público e os advogados da acusada. O interrogatório de Elize será por último, mas, segundo informou a assessoria de imprensa do TJ-SP, não há previsão de quando isso ocorrerá.
Somente após o cumprimento de todas essas etapas é que o magistrado dirá se a bacharel deverá responder pelos crimes no banco dos réus, diante de sete jurados escolhidos na sociedade.
Crime
O diretor da Yoki foi morto com um tiro e esquartejado pela mulher no apartamento onde o casal morava com a filha, na Zona Oeste da capital paulista. Elize responde a processo por assassinato e ocultação de cadáver. Ela sempre alegou que agiu sozinha. O crime teria sido motivado pela descoberta da infidelidade de Marcos. Para a acusação, a bacharel também queria ficar com um seguro de vida da vítima. A defesa de Elize alega que ela só atirou após ter sido agredida pelo marido.
A Promotoria avalia se irá pedir à Polícia Civil a instauração de um novo inquérito para investigar se a mulher da vítima teve a ajuda de outra pessoa para executar o crime. De acordo com o promotor José Carlos Cosenzo, especialistas do Instituto Médico-Legal (IML) da Polícia Técnico-Científica informaram que exames de DNA encontraram material genético no apartamento do casal diferente do de Elize e Marcos.
O diretor do DHPP, Jorge Carrasco, não foi localizado para comentar o assunto. Quando foi questionado no mês passado sobre a possibilidade de a Promotoria pedir uma nova investigação por suspeitar que Elize pudesse ter sido ajudada no crime, ele havia dito que instauraria o inquérito. Mas, baseando-se na investigação e laudos periciais, inclusive o da reconstituição do crime, Carrasco entendia que a bacharel continuava sendo a única suspeita do crime e que agiu sozinha.
O exame de DNA chegou ao conhecimento do Ministério Público no mês passado. No documento está escrito que em um dos cotonetes com as amostras coletas no apartamento há “um perfil genético compatível com uma mistura de material genético de no mínimo dois indivíduos, sendo ao menos 1 deles do sexo masculino”.
A perícia completou que “nestes perfis, não foi observado relação de verossimilhança dos alelos neles presentes e os alelos presentes no perfil genético obtido do sangue da vítima Marcos Kitano Matsunaga, estando este excluído como possível gerador destas amostras.”
Pedido de sigilo
Os advogados da família de Marcos entraram com um pedido na Justiça para que seja decretado sigilo no processo. A alegação se baseia no fato de que fotos da autópsia do corpo da vítima vazaram na internet, causando constrangimento aos parentes. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ)-SP o pedido de segredo foi feito no dia 3 de setembro, mas ainda não há nenhuma decisão a respeito.
Confira a relação das testemunhas do processo:
Nome |
Profissão |
Indicação |
Relação com os fatos |
---|---|---|---|
Mauro Kitano Matsunaga |
empresário e irmão de Marcos Matsunaga |
acusação |
Pode falar sobre o que a vítima falava de Elize e a relação do casal |
Willian Coelho de Oliveira |
detetive |
acusação |
Foi contratado por Elize para filmar traição de Marcos com modelo |
Valter Sérgio de Abreu |
delegado e amigo da família Matsunaga |
acusação |
Ajudou os parentes da vítima a procurar Marcos quando ele desapareceu |
René Henrique Gotz Licht |
reverendo da Catedral Anglicana de SP que casou Marcos e Elize |
acusação |
Disse à polícia ter alertado o diretor sobre o risco de ele ser morto pela mulher |
Horácio Rubem D’Abramo |
empresário dono de haras em Cotia e amigo de Marcos |
acusação |
Pode falar sobre como era a relação entre o casal Matsunaga |
Luiz Carlos Lózio |
funcionário da Yoki e amigo de Marcos |
acusação |
Pode falar sobre a relação de Marcos com Elize |
Nathalia Vila Real Lima |
modelo e pivô da traição de Marcos |
acusação |
Inicialmente havia dito à Polícia Civil que conheceu o empresário quando era garota de programa e recebeu dinheiro por isso. Depois, negou isso e afirmou que o conheceu como modelo e que ganhou presentes da vítima |
Amonir Hercilia dos Santos |
babá que foi ao apartamento do casal Matsunaga no dia 20 de maio |
acusação |
Pode falar sobre a relação do casal e repetir o depoimento dado à Polícia de que não viu Elize esquartejar o marido porque tomava conta da filha dos Matsunaga |
Mauro Gomes Dias |
delegado do caso |
acusação (juiz) |
Concluiu o inquérito do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) indiciando Elize por assassinato e ocultação de cadáver. Para ele, a bacharel agiu sozinha |
Jorge Pereira de Oliveira |
médico-legista e perito do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Técnico-Científica |
acusação (juiz) e defesa |
Apontou em laudo que, apesar de baleada na cabeça, a vítima foi decapitada ainda com vida e que cortes no corpo sugerem que mais alguém poderia ter ajudado no esquartejamento |
Ricardo Salada |
perito do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica |
acusação (juiz) e defesa |
Fez laudo da reprodução simulada do crime com a participação de Elize. Antes, analisou o apartamento do casal e encontrou vestígios de sangue no local, além de armas |
Neuza Gouveia da Silva |
empregada do casal Matsunaga |
defesa |
Pode falar sobre como era o relacionamento entre Marcos e Elize |
Mauricéia José Gonçalves dos Santos |
babá que esteve com o casal no dia 19 e aparece nas imagens das câmeras do elevador do prédio |
defesa |
Assim como no inquérito, pode relatar que foi dispensada por Elize momentos antes dela matar o marido |
Maria das Graças da Hora Santiago |
ex-empregada dos Matsunaga |
defesa |
Pode falar sobre como era a vida do casal até ela ter sido dispensada por Elize dias antes do crime |
Giovani de Oliveira Serafini |
advogado |
defesa |
Não informado pelo advogado |